domingo, 6 de março de 2011

Drive-In


O que se nota rapidamente quando se começa a viver nos Estados Unidos é que quase tudo está preparado para fazer com que a vida quotidiana seja o mais fácil possível e que, principalmente, as pessoas não tenham que se mover muito.

O expoente máximo é o Drive-In ou aqui chamado Drive-Thru (de through). Em Portugal, conhecemos bem o Drive-In do McDonald’s, que, às vezes, dá muito jeito. No entanto, e na maioria das vezes que tentava o Drive-In e, depois de examinar cuidadosamente o tamanho da fila de carros, lá estacionava o meu, entrava no Mc Donald’s, fazia o pedido, saía com os sacos e evidentemente verificava se tinha tido sucesso na minha tentativa de ganhar tempo, o que, invariavelmente acontecia. Opção acertada, missão bem sucedida e um sorriso no rosto.

Nos Estados Unidos, basicamente todas as cadeias de fast food (ou junk food), e são muitas, têm o seu Drive-Thru. Mc Donald’s, Dunkin Donuts, Starbucks, Subway, Wendy’s , etc, e até alguns cafezitos mais rasquitas, têm o seu. Arcaico, mas Drive-Thru. Assim, os americanos alinham no sistema e não querem sair do carro, e em consequência é raro não encontrar uma fila de carros em qualquer desses estabelecimentos. O que tenta fazer um Tuga Chico Esperto como eu? Estacionar o carro, levantar o rabo da carro, ir dentro da loja, fazer meu pedido, pagar, pegar na comida e/ou bebida e sair com um ar vitorioso. Errado! Tentei por três vezes e desisti. Dentro destas lojas está todo um sistema bem montado para atender o cliente que vai de carro. Numa loja com 20 rapazes/raparigas a atender clientes, estarão provavelmente 18 a tratar dos pedidos do Drive-Thru. Quando se entra na loja a pé, vazia por sinal, encontramos 1 ou 2 gatos pingados que parecem descontentes por ver-me a entrar. Fazemos o pedido, mas não há nada exposto para entrega imediata….está tudo a sair….para o Drive-Thru. Tenho que esperar e esperar e esperar, enquanto vai-se vendo no canto da loja os carros a serem atendidos com uma rapidez fascinante até que passa o carro que estava à minha frente. Desgraça. Perdi. Como sou teimoso, tentei por 3 vezes e acabou. Alinhei no Drive-Thru, mesmo quando as filas parecem inacreditavelmente grandes. Num instante somos atendidos e servidos.

No entanto, o preferido da minha mulher é o Drive-Thru do banco. Quase todos os bancos têm um, tanto para atendimento normal (depósito de cheques, assinatura de um papel qualquer, etc) como caixas multibanco. Para quem, como é o seu caso, tem um bebé no carro e uma menina de 5 anos, a ida ao banco ou multibanco torna-se uma tarefa mais fácil, mesmo debaixo de neve ou chuva torrencial. No entanto, e no caso dos bancos, a eficácia do sistema não é tão boa e acredito que se deve ao facto de não haver um menu do género:

1. Depósito de Cheque

2. Transferência entre contas

3. Insultar o Gerente por causa da taxa de serviço mensal que ninguém avisou que ia ser debitada

Também no banco não é possível ter as tais 18 pessoas a trabalhar para quem está no carro, i.e., só mesmo 1 funcionário pode servir 1 cliente. Claro está que o Tuga Chico Esperto fez a experiência e neste caso, invariavelmente, é bastante mais rápido estacionar o carro, levantar o rabo e entrar na agência. Estão várias pessoas ao balcão com os braços cruzados à espera de entrarmos e sermos servidos rapidamente.

Para rematar, as farmácias também têm Drive-Thru para os produtos com prescrição, mas sobre esse não posso pronunciar-me, porque, e ainda bem, ninguém ainda precisou de novos medicamentos lá por casa nestes 6 meses!

CAFÉ

Qualquer português que se preze, quando sai de Portugal, tem sempre uma desilusão com os cafés. Basta passarmos a fronteira para uma habitual exclamação “ai que porcaria!” Isso, quando temos a sorte de nos lembrarmos de pedir um “solo”, porque senão, lá vem aquele pingo fatela espanhol. O incrível, é que continuamos a tentar. Continuamos à procura do café que se compare ou se superiorize ao português. Com sorte, no sul de Espanha e em Itália, podemos encontrar algo parecido com o nosso forte cafezinho.

Ora, a situação torna-se mais caricata nos Estados Unidos. Portugueses que viajam para cá queixam-se frequentemente de não encontrarem o seu cimbalino ou a sua bica. Pior, é que os americanos que viajam a Portugal, queixam-se do mesmo! Não há nenhum lugar onde possa encontrar um café tipo americano? Há, se houver um Starbucks por perto (pelo que sei e para já, só em Lisboa).

Comparar um café português com um café americano, é como comparar futebol com futebol americano. Não têm nada a ver. É como comparar Ice Tea com um quentinho chá de Ceilão. E se assim pensarmos, seremos muito mais felizes! Libertar-nos-emos desta terrível ansiedade da procura do bom café, onde, de facto, ele não existe.

Todas as manhãs (quando já não estou atrasado), lá passo num Dunkin Donuts (em Rhode Island, há um em cada esquina, literalmente) e peço o meu “café americano”. Já consigo pedir de forma profissional: “Black Hot Coffee, Medium, with Sweet n’ Low”. Como uso o “Drive Through” (do qual escreverei noutra oportunidade), toda a operação tem que se processar muito rápido. Fazendo-se o pedido para uma máquina, que invariavelmente é inaudível para a funcionária que está dentro da loja, os primeiros resultados normalmente premiavam-me com um aguado café com leite, às vezes com gelo, e outras mistelas que nem percebo, até hoje, o que eram…

Agora posso apreciar o meu café americano, por aquilo que ele é. Uma bebida agradável de sabor a café, quentinha (para os dias de inverno), com um tamanho razoável que me possibilita leva-lo para o escritório e continuar a beber por pelo menos mais uma hora, sendo que o copo térmico permite-me desfrutar da mesma temperatura por esse período de tempo. É basicamente um chá de café! E é isso e nada mais que isso.

Se não tenho saudades do nosso cafezinho? Claro que tenho e muitas. Ainda ontem fui almoçar a um restaurante português em Fall River, onde comi um bife à portuguesa e para rematar, um cafezinho Delta à maneira. À portuguesa!

P.S. Será que quando voltar a Portugal não me vou ver impelido a ir a uma loja Starbucks com saudades de um Café Americano?