domingo, 30 de outubro de 2011

Clima


Hoje à noite, 30 de Outubro, nevou em Narragansett. Queda ligeira de neve, mas bastante precoce para esta época do ano. Temperatura pelos 0ºC.

Quando vim para os Estados Unidos, uma das preocupações era o clima, nomeadamente o frio, e um curto verão, em contraponto ao muito publicitado verão português.

E, de facto, Janeiro, Fevereiro e Março, principalmente, são meses difíceis de Inverno na Nova Inglaterra. Tempestades de neve e frio bloqueiam-nos constantemente a agenda, aeroportos fechados fazem-nos mudar nossos planos de trabalho e reuniões e o frio remete-nos para o aconchego quente das casas.

No entanto, a sensação de experimentar todas as estações do ano é cativante. Em Portugal, normalmente não vemos as folhas das árvores a cair, a mudarem de cor e, mesmo no Norte, não sentimos bem as estações do ano.

Por aqui, no princípio do Outono, começa-se a ver todas as espécies de animais em grande quantidade. Eles são aranhas de todos os tamanhos e feitios, são doninhas que é preciso ter cuidado para não assustar e acabar por cheirar seu odor de protecção, perus selvagens a correr e à beira da auto-estrada a lembrar que vem aí do Dia de Acção de Graças, veados e outros mais, como os castores (mas estes acompanham-nos o ano todo). Depois, em 2 a 3 semanas, as folhas que já se tornaram espectacularmente vermelhas e castanhas de todas as tonalidades possíveis, finalmente dão de si.

Quando o Inverno chega, esta vida animal começa a desaparecer, acabando por não ser possível encontrar vivalma no branco jardim coberto de neve. Chato é ter de tirar, com a pá, a neve da entrada da garagem antes de sair para trabalhar, isto é, às 5 da manhã. Numa noite de tempestade de neve, adormeci e quando acordei não tive tempo para limpar a neve pois já estava atrasado para uma reunião. Já me tinham avisado que se não limpasse a neve logo a seguir ela cair, iria me arrepender. E assim foi. Quando cheguei à noite, a neve já era gelo, e só um trabalho intensivo de 3 horas a martelar o gelo com auxílio de sal, permitiu-me colocar a rampa em condições. Nunca mais…

Mas a verdadeira pérola é o fim da Primavera e o Verão. Se optasse, e pudesse, colocar uns calções, uma t’shirt e uns chinelos, poderia estar assim desde Maio até ao fim de Setembro, mesmo durante a noite, o que infelizmente não podemos fazer em Portugal, pelo menos à noite e nas tardes de Nortada gelada. E os nativos passam a vida a queixar-se deste clima…se calhar é assim em todo o mundo….Aqui, sabemos com o que podemos contar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Obama, tal como Guterres


Demorei algum tempo a tomar a decisão de escrever esta crónica porque ainda tinha alguma esperança que a situação política e económica americana mudasse e eu, em consonância, pudesse mudar de opinião.

Quando, em 2008, Barack Obama apareceu como um forte candidato a ganhar as eleições presidenciais nos Estados Unidos, fiquei entusiasmado com a nova figura que se apresentava, sobretudo após a passagem de George W. Bush, que se não tivesse sido real e bastante triste, seria burlesca e cómica.

Mas já nessa altura, o discurso fluído, possante e agregador de Obama fez-me lembrar o Eng. António Guterres. Obama, tal como Guterres, conseguiu motivar massas, elegendo-se em contraposição a uma liderança prévia desgastada, George W. Bush e Cavaco Silva, que não se propuseram a eleições, o primeiro porque não podia e o segundo porque achou melhor não o fazer…

Obama, tal como Guterres, é um homem de princípios, com dignidade e ética. O político que aparece nas sondagens como o tal a quem confiaríamos as nossas poupanças, se obrigatoriamente tivéssemos que escolher algum.

Obama, tal como Guterres, motivou uma grande maioria que sonhou com um dia de amanhã bastante melhor acreditando que os tempos iriam mudar, absorvendo expectativas demasiadamente elevadas.

Obama, tal como Guterres, falhou. Ambos sofreram de uma falta grosseira de liderança. Guterres levou Portugal ao pântano, ao qual ficamos entregues até hoje, com os resultados negativos a atingirem seu expoente máximo na semana que passou com a apresentação do Orçamento de Estado para 2012 (não que seus sucessores e predecessores não tenham também a sua quota parte de responsabilidade). Obama não consegue pôr ordem em Washington, DC e nem sequer tem o Senado, de maioria Democrática, a seu favor, que acabou de rejeitar a sua nova legislação para criação de emprego, tal como Guterres que nunca conseguir pôr ordem no seu partido e no país. Obama tentou imprimir uma nova postura nestas últimas semanas, mais agressiva e mais directa. Esqueceu-se, talvez, que uma das características mais importantes de um grande líder é a consistência. Mudar de atitude não o torna num líder melhor e só palavras não chegam para governar uma nação.

Os americanos que apoiaram Obama estão frustrados, decepcionados. Muitos já dizem que não voltarão a votar Obama por que a América precisa de um líder forte e Obama não o é. Para mal de todos nós. Talvez Obama, tal como Guterres, se consiga reeleger mas temo muito que deixe os Estados Unidos num pântano que acarretará uma factura enorme para o Mundo em 2 ou 3 anos. Não será melhor que perca já em 2012?

domingo, 6 de março de 2011

Drive-In


O que se nota rapidamente quando se começa a viver nos Estados Unidos é que quase tudo está preparado para fazer com que a vida quotidiana seja o mais fácil possível e que, principalmente, as pessoas não tenham que se mover muito.

O expoente máximo é o Drive-In ou aqui chamado Drive-Thru (de through). Em Portugal, conhecemos bem o Drive-In do McDonald’s, que, às vezes, dá muito jeito. No entanto, e na maioria das vezes que tentava o Drive-In e, depois de examinar cuidadosamente o tamanho da fila de carros, lá estacionava o meu, entrava no Mc Donald’s, fazia o pedido, saía com os sacos e evidentemente verificava se tinha tido sucesso na minha tentativa de ganhar tempo, o que, invariavelmente acontecia. Opção acertada, missão bem sucedida e um sorriso no rosto.

Nos Estados Unidos, basicamente todas as cadeias de fast food (ou junk food), e são muitas, têm o seu Drive-Thru. Mc Donald’s, Dunkin Donuts, Starbucks, Subway, Wendy’s , etc, e até alguns cafezitos mais rasquitas, têm o seu. Arcaico, mas Drive-Thru. Assim, os americanos alinham no sistema e não querem sair do carro, e em consequência é raro não encontrar uma fila de carros em qualquer desses estabelecimentos. O que tenta fazer um Tuga Chico Esperto como eu? Estacionar o carro, levantar o rabo da carro, ir dentro da loja, fazer meu pedido, pagar, pegar na comida e/ou bebida e sair com um ar vitorioso. Errado! Tentei por três vezes e desisti. Dentro destas lojas está todo um sistema bem montado para atender o cliente que vai de carro. Numa loja com 20 rapazes/raparigas a atender clientes, estarão provavelmente 18 a tratar dos pedidos do Drive-Thru. Quando se entra na loja a pé, vazia por sinal, encontramos 1 ou 2 gatos pingados que parecem descontentes por ver-me a entrar. Fazemos o pedido, mas não há nada exposto para entrega imediata….está tudo a sair….para o Drive-Thru. Tenho que esperar e esperar e esperar, enquanto vai-se vendo no canto da loja os carros a serem atendidos com uma rapidez fascinante até que passa o carro que estava à minha frente. Desgraça. Perdi. Como sou teimoso, tentei por 3 vezes e acabou. Alinhei no Drive-Thru, mesmo quando as filas parecem inacreditavelmente grandes. Num instante somos atendidos e servidos.

No entanto, o preferido da minha mulher é o Drive-Thru do banco. Quase todos os bancos têm um, tanto para atendimento normal (depósito de cheques, assinatura de um papel qualquer, etc) como caixas multibanco. Para quem, como é o seu caso, tem um bebé no carro e uma menina de 5 anos, a ida ao banco ou multibanco torna-se uma tarefa mais fácil, mesmo debaixo de neve ou chuva torrencial. No entanto, e no caso dos bancos, a eficácia do sistema não é tão boa e acredito que se deve ao facto de não haver um menu do género:

1. Depósito de Cheque

2. Transferência entre contas

3. Insultar o Gerente por causa da taxa de serviço mensal que ninguém avisou que ia ser debitada

Também no banco não é possível ter as tais 18 pessoas a trabalhar para quem está no carro, i.e., só mesmo 1 funcionário pode servir 1 cliente. Claro está que o Tuga Chico Esperto fez a experiência e neste caso, invariavelmente, é bastante mais rápido estacionar o carro, levantar o rabo e entrar na agência. Estão várias pessoas ao balcão com os braços cruzados à espera de entrarmos e sermos servidos rapidamente.

Para rematar, as farmácias também têm Drive-Thru para os produtos com prescrição, mas sobre esse não posso pronunciar-me, porque, e ainda bem, ninguém ainda precisou de novos medicamentos lá por casa nestes 6 meses!

CAFÉ

Qualquer português que se preze, quando sai de Portugal, tem sempre uma desilusão com os cafés. Basta passarmos a fronteira para uma habitual exclamação “ai que porcaria!” Isso, quando temos a sorte de nos lembrarmos de pedir um “solo”, porque senão, lá vem aquele pingo fatela espanhol. O incrível, é que continuamos a tentar. Continuamos à procura do café que se compare ou se superiorize ao português. Com sorte, no sul de Espanha e em Itália, podemos encontrar algo parecido com o nosso forte cafezinho.

Ora, a situação torna-se mais caricata nos Estados Unidos. Portugueses que viajam para cá queixam-se frequentemente de não encontrarem o seu cimbalino ou a sua bica. Pior, é que os americanos que viajam a Portugal, queixam-se do mesmo! Não há nenhum lugar onde possa encontrar um café tipo americano? Há, se houver um Starbucks por perto (pelo que sei e para já, só em Lisboa).

Comparar um café português com um café americano, é como comparar futebol com futebol americano. Não têm nada a ver. É como comparar Ice Tea com um quentinho chá de Ceilão. E se assim pensarmos, seremos muito mais felizes! Libertar-nos-emos desta terrível ansiedade da procura do bom café, onde, de facto, ele não existe.

Todas as manhãs (quando já não estou atrasado), lá passo num Dunkin Donuts (em Rhode Island, há um em cada esquina, literalmente) e peço o meu “café americano”. Já consigo pedir de forma profissional: “Black Hot Coffee, Medium, with Sweet n’ Low”. Como uso o “Drive Through” (do qual escreverei noutra oportunidade), toda a operação tem que se processar muito rápido. Fazendo-se o pedido para uma máquina, que invariavelmente é inaudível para a funcionária que está dentro da loja, os primeiros resultados normalmente premiavam-me com um aguado café com leite, às vezes com gelo, e outras mistelas que nem percebo, até hoje, o que eram…

Agora posso apreciar o meu café americano, por aquilo que ele é. Uma bebida agradável de sabor a café, quentinha (para os dias de inverno), com um tamanho razoável que me possibilita leva-lo para o escritório e continuar a beber por pelo menos mais uma hora, sendo que o copo térmico permite-me desfrutar da mesma temperatura por esse período de tempo. É basicamente um chá de café! E é isso e nada mais que isso.

Se não tenho saudades do nosso cafezinho? Claro que tenho e muitas. Ainda ontem fui almoçar a um restaurante português em Fall River, onde comi um bife à portuguesa e para rematar, um cafezinho Delta à maneira. À portuguesa!

P.S. Será que quando voltar a Portugal não me vou ver impelido a ir a uma loja Starbucks com saudades de um Café Americano?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Bidé

Não poderei deixar de inaugurar este meu novo blog, com algo que tanto jeito dá aos portugueses. O Bidé. Nunca fui um grande utilizador, é verdade. Mas lá de vez em quando, o objecto sanitário, dá um jeito brutal, seja para os pés, seja para as partes mais íntimas, e em casos extremos, uma lavagem rápida ao bebé. Qualquer casa portuguesa, da mais humilde à mais luxuosa, tem sempre, pelo menos, um bidé.

Acabou-se-nos o bidé, pois aqui nos Estados Unidos, em muitos casos, desconhece-se a existência desta maravilha francesa do Séc. XVIII. A minha casa não tem nenhum e tampouco os inúmeros hotéis onde já estive. Mesmo aqueles com as estrelas máximas. Em consequência, ponho-me a imaginar como os nativos tratam a sua higiene mais íntima. Ou ora, quando sentem a necessidade de um bidezinho, metem-se de corpo e alma dentro do chuveiro porque nos Estados Unidos estes são fixos na parede e sem as sempre estragadas extensões (e sobre isso escreverei numa outra oportunidade) o que me parece algo trabalhoso, ou então aí vão mais umas voltas de papel higiénico. Não tive oportunidade de verificar as estatísticas quanto à incidência de hemorróides e seus tratamentos nos dois lados do Atlântico, mas não tenho dúvidas que o papel do bidé será de extrema relevância nesse estudo.

Os mais brilhantes bidés que conheço das minhas viagens, são sem dúvida, os brasileiros. O meu sonho agora, é ter um. Com um chuveirinho mesmo a meio, suplantam as expectativas, principalmente quando possuídos de uma força intensa, capaz de uma limpeza massajadora, que deixa qualquer usuário mais do que satisfeito com os resultados obtidos!

Porque?

Nesta estadia temporária na zona de “New England” nos Estados Unidos, que abrange os Estados de Connecticut, Rhode Island, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Maine, fui relatando a amigos algumas diferenças na vida quotidiana entre Portugal e a nossa nova localização. O termo “Yankee” se originou por meados do século XVII devido a grande presença de holandeses na Nova Inglaterra, onde muito dos quais se chamavam "Jan" (em português João, pronunciado [yan]) e assim, do apelido “Janke” ("Joãozinho"), se originou o termo em inglês “Yankee”.

Mudamo-nos para Rhode Island a 30 de Agosto deste ano. Minha mulher, uma filha com 5 anos, o bebé com agora nove meses e o Simão, nosso Golden Retriever. Vivemos em Narragansett, uma simpática cidade entre o mar e a Baía de Narragansett, por sorte um verdadeiro paraíso para a vela (sim, sou velejador) e uma beleza natural surpreendente. Newport fica a cerca de 7 km.

Minha missão profissional, da qual não pretendo escrever aqui, está prevista terminar em meados de 2012, quando voltaremos para o Porto.

Resolvi criar o Blog para memória futura, informar os amigos sobre particularidades da vida quotidiana e também quem pretenda passar pela mesma aventura, comparando o que há de bom e mau nos dois mundos, sem procurar ser demasiado sério. Este deve ser um espaço para alguma boa disposição. Quanto mais o tempo passa fora de Portugal, mais apercebo-me que temos tudo para ser um grande país. Falta-nos o rumo correcto.